domingo, 19 de setembro de 2010

Episódio Triste

Desfoco os olhos desta realidade numa tentativa ilusória de que ela adquira a veracidade de outros tempos, mas ela insiste em me pesar a cada passar de um ridículo segundo. Saberemos afinal o que chega a ser real? o que chega a ser verídico? sincero? nosso?
Ou será isso ao final de uma história contada na mais bonita das conjugações, das palavras cobertas de sonhos,a realidade desfocada dos segundos que o tempo guarda e pinta de eternidade? Não vejo senão efemeridade nisso...
As paredes aqui, também elas cansadas da espera das cores que lhes prometemos oferecer, sentem o vazio que lhes cuspo no pesar da noite serrada que não te trás à rua para a qual corro vezes sem conta na esperança medíocre de que tu dobres aquela esquina, aparentemente impossível de malear. Ai se a pudesse desviar do meu caminho para te ver chegar!Para isso seria preciso que quisesses de facto chegar...
Esperei até a noite me confundir com ela, até o abandono e a perda me devorarem as entranhas.Foste e não olhaste para trás.Mas se te é tão fácil deixares-me no caminho passado dessa terra então para quê consumir o tempo construindo meticulosamente esperanças do que já tomou rumo? Que terra foi essa afinal? Foi? Não foi?
Pedi-te ao meu lado mas percebo agora que o entorpe não é a minha falta de disposição para tal mas sim a tua, que tão depressa como te ocupas-te da minha vida, a deixarás...
Estas são as linhas de um mundo contrário a si mesmo, que vou desfocando para melhor ver, onde desvaneces lá bem ao fundo, porque amanhã? amanhã entregarás tudo à insignificância vã de uma crença, porque também não virás...estarei à espera para desfocar de vez o meu mundo numa outra direcção...
As paredes? colori-las-ei de pedaços quebrados da minha solidão que nunca teve senão destinada a ser sozinha...

domingo, 25 de julho de 2010

Só isto?!

Piso este chão, piso este chão tão diferente do meu...
Piso a gravidade para de mim me aliviar...
Escorro os cabelos ao vento nesta cidade de sons e de luzes, neste Tejo que nas suas margens me eleva, e com o olhar posto no horizonte dessas correntes sigo e afasto-me e desloco-me mas a gravidade que piso afinal só me pesa e me silencia na escuridão que trago que carrego e que deponho porque me sinto "Só isto?" .

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Grades

Ainda agora te quis falar mas não pude, tenho essas grades em meu redor, grades que sei que não te mantêm do lado de fora, apenas me cercam...

"Neste caso o problema é que posso não ver bem. E o que eu quero nesta situação é ver bem..."


-Sou complicada, disse.

"Aproxima-te um pouco mais, não penses nas grades!"

-Ainda não te percebo bem, disseste.

"Sou para ti uma silhueta. Um corpo que se movimenta com esforço. Há pouca luz aqui. Há sempre pouca luz aqui. Não me consegues ver bem, não percebes bem como sou (...)"

domingo, 6 de junho de 2010

Como quem abdica...

" E, como a coroa e o manto régios nunca são tão grandes como quando o Rei que parte os deixa no chão, deponho sobre os mosaicos das antecâmaras todos os meus triunfos do tédio e do sonho, subo a escadaria com a única nobreza de ver...


"Livro do Desassossego" - Fernando Pessoa

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Uma calma qualquer...

Porque é preciso sabermo-nos afastar quando o tempo não é o nosso...
Porque há que saber assumir a responsabilidade dos mundos afinal por nós inventados na imaginação de uma realidade alternativa à vivida...
Porque amo a vida nos seus mais míseros detalhes e com eles construirei o meu diferente mundo. E como seria um mundo percepcionado de maneira diferente?!
Estou bem...
Porque afinal tenho a esperança de uma vida pela frente e de todos os que a ela se quiserem juntar...
Porque tenho tudo...Tenho muito mais para dar!
Porque a vida não é de todo um tempo de espera para o qual não existe sentido algum...
Porque o tempo passa, e embora o ignoremos, passa, passa e leva consigo os momentos não vividos, os sonhos que nunca passaram disso mesmo, as pessoas com quem por comodismo, quem sabe, não criámos nada, as perguntas que não fizemos e o sentido que não demos ao que somos ou ao que disso podemos fazer...
Uma calma qualquer...
Será melhor mesmo viver seguindo "uma calma qualquer"?!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Qual é o segredo?

Tenho tentado, tenho feito um esforço para ser melhor, para me superar e realmente acabo por fazê-lo sem me dar conta. Mas há uma parte de mim que para sempre estará em falta...Tenho o corpo negro, negro de indiferença, mutilado do que nunca chegou a mim...
Porque as pessoas não mudam, apenas arranjam diferentes formas de disfarçar isso, crescem...acumulam idade mas ficam estagnadas!
Apenas quero de novo ser como as crianças que hoje à mihna volta no jardim brincavam, aqueles pequenos seres sociais activos na sua forma tão peculiar, onde tudo se apresenta num pasmo de eterna novidade, para quem o mais pequeno pau no chão eleva castelos de sonho...
Qual é o segredo?
O segredo é a verdade que os Homens há muito perderam nas suas vidas de "crescidos" onde já não conseguem ver o valor das coisas sem as quantificarem, onde antes de se julgarem a si próprios já rotularam os outros, onde se deixou de ter tempo para sair da monótona rotina e conhecer o que quer que seja. Onde se esqueceu que apenas se pode exigir das pessoas aquilo que elas nos podem dar, que é o tempo que perdemos com as pessoas ou coisas que as tornam importantes e que somos eternamente responsáveis por aqueles a quem cativamos...

"-Agora vou-te contar o tal segredo. É muito simples: Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...
- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer..."

domingo, 30 de maio de 2010

Tiros no escuro II

Impulsos são tiros no escuro de quem já não consegue conter o que antes de poder ser explicado ou vivido já vence em forma de uma inquietude a transbordar.
Impulsos são surtos de algo acima do possível de controlar, como uma natureza interior a revelar.
Impulsos são a sinceridade em expressão falhada, espelhada num reflexo que não revela da melhor forma o que de mais único e espontâneo carregamos a sós...
Impulsos numa tentativa de libertar pesos que dos contornos inimagináveis que adquirem se tornam impossíveis de acartar, num desespero de quem já não encontra como se expressar.
Impulsos quando o impasse nos envolve na sua paranóia e nos impede de seguir em frente.
Impulsos quando o silêncio se torna insuportável, quando pouco já se sente ter a perder, ainda que assim não seja por completo.
Impulsos que ou nos trazem o tudo ou o nada...
Impulsos de um amor há muito platónico.
Porque tu és inteiro e eu sou desfeita!

(...)

E que olhares são esses afinal?!
São a expressão dos impulsos contidos na transparência do que para mim és...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Tiros no escuro...

Estou farta destas palavras inertes que escrevo, que já de si não se conseguem fazer ouvir, não têm força para chegar a ti, para te levar o que em mim há...
Procurei-te entre a multidão mas não poderei nunca te encontrar até tu de facto quereres ser encontrado...Corres, foges por entre o que tenho para te dar, mas isso não é apenas medo...
E a mim?! A mim não sei o que me faz acreditar independentemente de tudo o que de ti me afasta, será em vão? Procurar-te-ei numa multidão onde todos para ti existem numa realidade a ti possível mas da qual eu não faço parte?
Estou tão farta deste meu papel que não vê reciprocidade alguma. Sinto-me a viver paralelamente a ti e a uma esperança que não sei onde vou buscar, esperança que tu não tens para me dar. O que sou afinal quando me olhas abstraindo-te da multidão?
Cansei-me de tentar ser perfeita neste jogo arriscado onde a tua perfeição à muito se abateu sobre mim e onde ninguém mais a ti se iguala, mas no qual tu não me vez como tal. Eu sairei magoada, começo agora a aperceber-me de que este meu sonho nunca será uma tela de cinema no teu filme que não me deixas protagonizar.
Eu sei, sairei magoada. Eu sei o risco que comporta mas é a única forma de viver a vida na sua totalidade. Quem és tu afinal no meio da multidão? Que significado válido tem esse espaço temporal entre nós? Eu tento ser perfeita mas tu não me vês como tal...
Não quero mais saber, não tentarei mais alcançar a perfeição porque tu nunca a sentirás até me deixares chegar perto...Nunca disse "amo-te" a ninguém ! No meu silêncio perante o teu é o que te digo, de cada vez que nos meus olhos olhas, de cada vez que me sorris, de cada vez que no teu mais pequeno movimento eu o sinto...no meu silêncio. Porque o silêncio é a melhor resposta ou no teu caso o mais conveniente para quem nada tem a dizer!
E se realmente não consegues ignorar esses argumentos supérfluos que a nós se opõem, razões que utilizas para nos afastar, se de facto não vês nem queres ver para além disso, então talvez sejas igual a todos os que a ti na multidão se juntam, talvez não mereças o que estou disposta a dar, talvez nada de especial aja nesse olhar com que me olhas. E ainda me pergunto, que olhar é esse?

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Conto II: Solos de Dança

Eram 4h da manhã. Ela acabara de chegar a casa, sentia-se indisposta por isso foi até à casa de banho e esforçou-se por vomitar mas nada se alterou, percebeu que essa má disposição que a incomodava não era algo que pudesse mudar com um simples vómito, revelava algo mais intrínseco...
Foi até ao quarto e abriu a janela na tentativa de sentir a leve brisa da noite, mas nem ai encontrou conforto. Enrolou um cigarro e ficou ali a observar o quadrado de vidas que pelas janelas aos poucos se soltavam. Àquela hora quase não existia realidade que os seus olhos pudessem observar portanto focou-se naquela estranha luz incessante que sempre vermelha piscava. Nunca chegara a saber que luz era aquela. Como era sinistra, pensava.
Compenetrada em toda uma envolvencia deu por si a pensar naquela tarde...

(...)

...em que uma cigana quase forçadamente lhe leu a mão e falou acerca de um moreno de olhos grandes.
Nunca gostara dessas coisas, não encontrava necessidade alguma na previsão do que quer que seja, ainda para mais sempre achou que era exactamente o facto de nos dizerem que determinada coisa irá acontecer que nos leva até ela. Todos temos vários futuros alternativos e um simples virar à esquerda em vez da direita pode determinar o dia e com ele uma vida e um desses futuros.
lembrava-se que depois desse dia e depois de tanto pensar no que lhe havia sido dito ainda teve vontade de lá voltar e perguntar se esse tal moreno de olhos grandes era ele. Esitou durante um tempo mas certo dia fartou-se e apanhou um autocarro...Estava nervosa, não tinha a certeza de querer de facto saber, receava o que lhe poderia ser dito e o impacto que isso poderia ter sobre si.Respirou fundo e enquanto isso ficou a ouvir a conversa das duas mulheres já de idade avançada, sentadas no banco de trás que até então apenas se tinham queixado e falado sobre doenças mas que agora falavam de um certo alguém seu conhecido, escutou.
-Ah está junto com uma mulher que tem idade para ser filha dele!
-Pois, vive com a juventude ao lado não envelhece!
E voltaram a falar de doenças.
Chegou. Saiu do autocarro e foi-se arrastando. Curiosamente apercebeu-se de que simplesmente não queria saber, não fazia sentido. Sorriu e pensou que de facto o silêncio da expectativa é bem melhor. Foi para casa. E nunca mais isso a perturbou...

(...)

Acabou o cigarro, sentia-se bem melhor. A luz continuava incessante.
Pensou nele, desejou que aquelas palavras envoltas no ritmo do Homem dos solos inconfundíveis tivessem sido escritas a pensar em si, mas o mais certo era esse pensamento não ter o menor fundamento. Não ficou triste, sabe que tudo na vida é uma construção. Não gostava da nudez óbvia, mas sim da sugestão do ornamento desconstruído. Não ficou triste, sabe que só aos poucos chegará a ele, porque não, ela não o queria só por uma noite. Passo a passo determinaria o seu dia e com ele uma vida e aquele futuro em que dançaria com o moreno de olhos grandes aquela dança que de tão envolvente reflectiria a construção do que agora é o silêncio tímido dos olhares de quem não sabe dançar!
Fechou a janela. Vestiu aquele vestido. Ai como gostava que ele a visse assim, com aquele vestido num adorno que sugeria a sua nudez, elegante, discreto e sublime.
Sorriu e ao som daquelas ritmos latinos dançou no seu movimento de ancas que a embalavam naquela envolvencia. Dançou solos de dança...dançou!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Autenticidade(?)

A propósito deste tema da autenticidade irei falar do livro “tradicional” por oposição a um novo conceito de livro, o livro electrónico – e-book.
Há uns tempos vi uma notícia, algures num telejornal, onde se falava acerca das fantásticas aplicabilidades desta nova forma de ler, que na minha opinião não tem nada de fantástico e muito menos de autentico.
Podemos incluir este e-book na categoria das novas tecnologias que caracterizam o Mundo de Hoje, e portanto a contemporaneidade.
Começarei por apresentar as características deste integrante das inovações tecnológicas com base na minha pesquisa on-line. Assim, este novo formato constitui, ao que dizem, “ uma biblioteca de bolso, é pequeno como um livro de bolso, permite transportar entre 1000 e 4000 livros, jornais, documentos de trabalho ou suportes áudio, lê vários formatos, oferece uma autonomia que permite ler até 7000pág. mesmo à luz do sol, sendo ainda possível marcar as suas páginas, ampliar o tamanho do texto, escolher utilizá-lo na vertical ou na horizontal e apresentar imagens. O seu sistema de apresentação à base de tinta electrónica oferece um grande conforto de leitura, comparável à de um livro”.
Comparável à de um livro? Será?
Será em torno desta questão que irei tecer o meu comentário, começando por perguntar até que ponto será legitimo comparar o livro electrónico ao “tradicional”?
Com isto, há que ter em conta que o conceito de autenticidade para além de ser, indubitavelmente um conceito inteiramente relativo é também, a meu ver, um conceito subjectivo, pois está em parte, e não querendo generalizar visto ser óbvio que existem traços que definem uma cultura e a tornam única e autêntica, dependente da opinião de cada individuo dentro da sociedade a que pertence.
Posto isto, o livro é indiscutivelmente algo tradicional, com existência prolongada, não só na nossa cultura, mas em muitas outras. Fazendo parte da História e sendo ele próprio história.
História de Homens que algures no tempo decidiram pegar em pedras que colhiam do chão e rabiscar uns hieróglifos nas cavernas e em outros locais propícios a tal. Que passados largos anos evoluíram, e voltaram a evoluir, e assim mais 4 ou 5 vezes (seguindo-me pelo que a história dita). Passaram por vários processos de moldagem até chegarem ao protótipo do ser humano actual. Durante todos estes anos, descobriram-se formas de fazer o dito papel, tendo como base de criação, as árvores. Começaram então a expressar-se através das folhas de papel e canetas, criando livros, livros esses que se começaram a comercializar.
A sua autenticidade reside, acima de tudo nos sentidos que desperta. Poder tocar num livro, folhear página a página e sentir a textura das folhas ao voltá-las, o cheiro característico de um livro guardado durante anos ou da tinta de um acabado de comprar, sentir que temos um poço de informação nas mãos, poder manuseá-lo à nossa inteira vontade, criar um elo de ligação com cada livro como se fizesse parte de nós e do nada que na subtileza das páginas se vai encaixando. Sensações que apenas o livro propriamente dito pode extrapolar, roubadas, mecanizadas com essa nova forma de ler.
O simples facto de ter os livros com suas capas ilustradas para pegar e esfolhear, para contemplar, coleccionar, sublinhar, para ler e reler, dispor em estantes ou espalhar pelo chão…não é isto de uma extrema autenticidade? Como poderei eu sequer imaginar todos os meus livros atabalhoados em letras dentro de um ecrã que nada me pode transmitir?
A nossa sociedade está perante mais uma transformação em comunicação literária, o novo paraíso das gerações vindouras, onde já não há sentimento pelas boas energias que a capa de um livro nos transmite.
O e-book ainda se encontra numa espécie de limbo, mas o que haverá de autentico nesta tentativa desenfreada de automatização traduzida em chips a colocar no cérebro do Mundo? O que haverá de essencial quando o que existe de verdadeiro for desnecessariamente transformado numa tentativa de acompanhar o frenesim dos tempos?
Eu que sou uma pessoa analógica num Mundo digital espero que se possa encontrar um equilíbrio entre extremos, espero que se mantenham os nossos preciosos livros palpáveis.
Mas de alguma forma verificar-se-á coexistência ou competição com o livro tradicional?

terça-feira, 4 de maio de 2010

Conto I: O Retrovisor

Depois daquele fim de semana inesperado, estava na hora de voltar a Lisboa, e com ela à realidade do dia a dia. Ele iria a conduzir. Ela sentou-se propositadamente no lado direito do banco de trás, gostava de sentir a possibilidade dos olhares de retrovisor.
No carro vinham também o irmão, à frente, e a prima dele, ao lado dela no banco de trás.
Ninguém se arriscou a falar, e com o silêncio e o bom tempo que se fazia sentir, alguns deixaram-se adormecer.
Ficou ele e ela.
Ninguém falou.
Ela estava sentada de uma forma enrolada sobre si, diria até desleixada, ou então apenas descontraída.Sentava-se assim sempre que se sentia, ou procurava sentir, confortável consigo.
Naquele dia estava apenas bem, envolvida em si e nos seus pensamentos, como tantas vezes, misturada com o vento que entrava pela janela aberta do carro em movimento que lhe refrescava o rosto e baralhava o cabelo. Gostava de sentir aquele vento entorpecido por um sol que lhe cegava os olhos que fechava por instantes, pequenos instantes.
Não disse nada, nem se preocupou em dizer. Qualquer palavra que lhe saísse seria apenas uma tentativa de cortar o silêncio, que na verdade não a incomodava, pelo contrário transmitia-lhe paz. Ficou, então, concentrada no silêncio da musica que ele ia escolhendo. De vez em quando sorria para si, estava a gostar do seu jogo mental em que interpretava as mensagens das músicas como vindas dele para ela. A conversa que o silêncio ia sussurrando.
Depois olhava para ele, tinha um rosto como nunca antes vira nenhum, se pudesse ficaria horas a contemplá-lo, pensava.
Mudava de posição quando se dava conta de si estagnada nas linhas da sua face, não queria ser demasiado óbvia. Mas era inevitável olhá-lo, afinal também não tinha oportunidade de o fazer muitas vezes...
Fez um esforço para se dispersar e baixou a cabeça que pousou sobre os joelhos das suas pernas dobradas. Ficou assim uns segundos, e quando se achou preparada ergueu a cabeça, mas ainda assim não resistiu em lançar um último olhar ao retrovisor, onde inesperada e surpreendentemente viu os olhos dele a espreitarem para si, pensa ela que na preocupação de ver se também ela estaria a dormir. Ele rapidamente direccionou o olhar para a estrada que se estendia à sua frente e colocou uns óculos de sol.
Ela gelou com aquele olhar, não sabia se haveria de ficar feliz ou confusa. Ficou confusamente feliz mas a sua expressão facial a partir de então tornou-se estranha e um pouco indecifrável.
Ainda o olhou de relance algumas vezes até Lisboa, mas não tinha agora como saber em que direcção apontavam os seus olhos. O que lhe percorria os pensamentos não tinha como saber...Ficou, então, a perguntar-se se estaria ele a olhá-la por de baixo daqueles óculos ou se a olharia como ela o tinha vindo a olhar ao longo do caminho. Queria que o seu rosto lhe parecesse tão perfeito como o dele lhe parecia a ela...Mas não tinha como saber, o silêncio não lho disse!
Voltou a sentir o vento que ainda teimava em lhe baralhar o cabelo, mas deixou-se ficar...
Pensava como aquele olhar tão óbvio da parte dele poderia ser o inicio de uma vida, de uma história dele e dela, apenas dele e dela. Ou de como aquele olhar poderia ser o inicio de um desassossego que a atormentaria pelas certezas que o silêncio nunca lhe revelaria...
Enfim, tudo na vida é um quase...um quase tudo!
Chegaram a Lisboa. Ele deixou-a em casa, naquela avenida iluminada pelo sol de fim de tarde e seguiu...seguiu para a realidade do seu dia a dia.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Uma pequena história...

" O seu corpo pedia-lhe mais descanso, necessitava de uma droga para se manter acordado, assim sendo, decidiu ir ao café. Desceu. Atravessou a rua. Entrou.
..."Que rapariga maravilhosa ali naquele canto, meu Deus que rapariga, tão sensual com aquela camisola bordeaux, aquela pose de artista sentada a ler um livro, ainda por cima tem bom gosto, como era bom se ela viesse até aqui.
Je sais aujourd'hui saluer la beauté.
Ela diria que adorava essa parte e que tal ir jantar a casa dela um dia e depois casar, eu responderia que tudo bem com o jantar e com o casamento logo se veria e ela concordaria. Como era bom se ela viesse até aqui. Aposto que tem o andar mais bonito com aquelas pernas magras. se eu fosse normal ia até à mesa dela, pousava a minha bica ao lado do cappucino dela e sentava-me.
Porque é que eu não sou normal, não tenho coragem de lá ir sentar-me? Talvez ela gostasse, talvez a sua primeira reacção fosse até dar-me um beijo de boas-vindas. Não custava nada tentar. Ou, então, o mais provável seria ignorar-me com um leve sorriso e fazer-me chorar. Por isso, mais vale ficar aqui na minha mesa a observá-la à distância sem ela saber, a deliciar-me com o seu ar concentrado nas belas palavras do livro que lê. Bastava levantar-me e ir até lá. Melhor seria se ela viesse aqui, poderia acariciar, primeiro com os olhos, depois com as mãos, aquele cabelo com alguns caracóis. Como era bom se ela viesse até aqui, não acredito!, levantou-se, está a vir para cá, oh não, lançou-me um sorriso de desprezo, afinal dirigia-se para a caixa, oh não, meu Deus, não a deixes sair, não a deixes ir embora, já pagou...que desespero, a minha ultima oportunidade. Parece que estou colado à cadeira, não me consigo levantar e vou deixá-la fugir...A rainha dos anjos a escapar-me por entre as mãos. Que andar sublime, meu Deus.
Adeus, amor..."


Ela saiu do café, guardou o livro. Faltavam 15min para a consulta. Chegou lá atrasada. Sentou-se e começou a falar.
- No outro dia lembrei-me da nossa conversa sobre a felicidade. Descobri que o problema talvez esteja em mim, talvez eu seja exigente demais comigo propria e para com a vida. Eu, no fundo, nem sou daquelas que se encontra na situação pior, há por ai pessoas na multidão que fazem um esforço enorme para viver um pouco todos os dias. Levantam-se, demoram 3h num autocarro para chegar a um trabalho de merda, almoçam um pacote de bolachas, voltam para o trabalho, aguentam o marido e a amante, chegam a casa, dão de comer ao filho, mudam as fraldas, sujam as mãos no rabo do miúdo, limpam as fezes que o cão fez em casa, fazem o jantar para o marido, enfiam-se na cozinha, lavam a loiça, deitam o filho, limpam a casa, passam a ferro e vão-se deitar. Que merda de vida é essa? Não falo apenas de coisas materiais: que tipo de amor é que essas pessoas recebem e que amor é que dão de volta? Que ambições é que essas pessoas têm na vida? Talvez chegarem a Domingo vivas e a tempo de irem ao Colombo ver montras inacessíveis, sonhando em ter tido um vestido de noiva decente. É dessas pessoas que tenho pena. Afinal, porque é que eu não consigo ser feliz?
-Hoje no café, por exemplo, vi um rapaz lindíssimo a beber uma bica. Fui atraída de imediato por qualquer coisa nele. Ele nem deve ter reparado em mim, uma rapariga vulgar com uma camisola bordeaux a beber um cappucino e a ler um livro, ou melhor, a finjir que lia um livro, pois a partir do momento em que ele entrou não me consegui concentrar mais e passei o tempo todo a olhar para ele discretamente. Ele apenas me olhou uma ou duas vezes de relance. Imaginei histórias várias para o momento do nosso encontro: eu devia ter tido coragem e ter ido lá, lia-lhe um poema, cantava-lhe uma canção e convidava-o para ir almoçar; ou então, ele poderia ter-se levantado e vindo até à minha mesa meter conversa, mas claro, quem é que quereria meter conversa com uma rapariga como eu? Estive até à ultima a roer-me por dentro para ter coragem e ir lá falar com ele. Como se vê, não fui. Acabei por sair, ainda lhe dei um ultimo sorriso de desespero que não resultou em nada. Fiz um esforço e não olhei para trás. Como era bom se ele tivesse ido lá...mas não foi...
É-me cada vez mais difícil viver nesta realidade; em vez disso, invento histórias, imagino situações e vou vivendo lentamente acompanhada por decepções constantes. Nenhuma das minhas histórias se realizou até hoje, parece que estou definitivamente condenada a viver no mundo dos sonhos de maneira a conseguir sobreviver.


Ela olhou para o relógio, levantou-se. Saiu. Passou por casa, fez uma mala e apanhou um comboio em direcção ao sul.


Ele voltou para casa a pensar no que havia de fazer com a sua vida. Fez uma mala e apanhou uma camioneta em direcção ao norte."

João Rosas in Deus Morreu e Eu Não Fui ao Funeral


(Dá que pensar não?!)

terça-feira, 27 de abril de 2010

Última Dança...

Como esta musica me arrepia...automaticamente me atira sem qualquer tipo de protecção para a noite em que dançamos...a nossa ultima dança! Não foi perfeita, não de todo, mas foi aquela em que eu, ignorando tudo o que a minha volta se posicionava, acedi à minha playlist e escolhi a musica que agora me faz sentir cada entranha de mim em tom de um sentimento prestes a transbordar.
A nossa ultima dança...aquela em que colei o meu corpo ao teu numa palpitação que decerto podias ouvir. Palpitação de um apenas te querer sentir...assim nessa que foi a nossa ultima dança!
E grito o teu nome em silêncio...
Grito para que venhas dançar comigo...
Grito para que percebas que tens mais para dar
Que tens mais para ser...
Que tens mais para receber...
Porque não, a espera de quem acredita não pode nunca ser em vão!
E esta é a dança da vida...
Não podes desistir só porque ainda não acertas-te nos passos.
Esta é a dança da vida...Que não podes nunca reacusar!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sento-me sempre na ultima fila...

Esta esfera? Esta esfera não é minha, não me pertence...ou serei eu que não faço parte dela?
Talvez eu não lhe pertença nem ela faça parte de mim...Talvez!
Serei eu o rumor de um boato que passa de boca em boca e ganha contornos verídicos? Será?!
O grito desesperado da esfera de gente drogada das aparências do Mundo? Ou serei apenas esse eco?
Não devo ser nada disso!
Sou sim, o que escrevo numa tentativa de segredar aquilo que nunca saberei gesticular na minha junção de palavras...Sou eu, dizendo-o sem saber realmente o que dizê-lo significa, não sei de que esfera de que eco ou rumor...
E ainda assim poderei afirmar que sou eu, que existe um eu?
Seja eu quem for, ou o que julgo ser...
Gosto de pessoas simples!
Gosto, não dos que se fazem notar, mas daqueles que sobressaem por serem não mais que simples pessoas.
Ser simples revela carácter!
Gosto de pessoas simples!
Esta esfera irrita-me...Ninguém aqui fala do que importa falar, ninguém aqui fala sequer do que sabe, porque não sabem senão aquilo de que se entopem para depois atirarem à cara do Mundo, num desespero de afirmação sob os seus mantos de conversas intelectuais cheias de nada, de tão reles vida, de tão pouco ser...
Sento-me sempre na ultima fila...
Tão triste observar como se sentem superiores, distintos e cheios de diferença. Diferença que mostram e gritam em tudo o que fazem, desde o mais ínfimo suspiro.
Estes serão aqueles que acumularão idade mas ficarão estagnados!
Eu sento-me sempre na ultima fila...
Quem de facto é diferente não necessita mostra-lo, chapa-lo na cara dos outros como um letreiro obrigatório de ler...Não! Quem é diferente é-o e pronto!
Essa esfera julga e faz-se julgar e é tão ridícula mas não vê...
Ai...como gosto de pessoas simples!
Essas que sabem que o que importa saber na vida não poderá nunca ser ensinado!
Serei então esse eu que julgo ser mas dêem-me o empírico, porque não gosto senão de pessoas simples!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Give a Chance...

Nós, enquanto indivíduos que somos, apenas precisamos de alguém que acredite em nós, no que somos como pessoas, no valor que temos...alguém que nos dê uma oportunidade!

quarta-feira, 31 de março de 2010

Arte (?)

Num mundo exterior...
No auge da libertação da mente...
No patamar da arte dos sentimentos inefáveis...
A arte, a arte que é apenas de quem a consegue transmitir...
Num vislumbre de ti, de mundos que não são meus, mas nos quais me envolvo para me sentir...
Completamente inteira e saciada no som do mais pequeno toque das partículas em movimento no pesar dos meus olhos.
Na conjugação das palavras que não existem porque tu lhe roubaste a perfeição e a ofereceste à minha criação de ti...
Arte, arte essa que se desalojou de mim porque eu nunca tive um tecto decente para a abrigar. Tive, então, de a deixar refugiar-se na minha mente adormecida que o meu corpo acorrenta...
E ela existe num mundo paralelo, fora de qualquer barreira corporal.
E todos os dias me sinto à margem de tudo o que à minha volta se apressa numa tentativa desenfreada de acompanhar o frenesim dos tempos...
Tempos de um chamado tempo que nos rege e que eu vou sequestrar só para ti...
E sinto-me tão maior, tão mais que mim embrulhada numa sociedade que não pertence ao mundo pois é possível, e só é possível pois é minha!
E sim, eu sorrio porque podes chamar-me pequena que eu não quero saber...
É essa a vantagem de nunca nos revelarmos à luz do dia, fica sempre mais por descobrir para quem tiver a audácia de chegar perto e ver de cima. Torna-se possível surpreender...
Ver o que a camuflagem esconde sem despir a nudez...
É esse o grande teste da complexidade das relações Humanas...

domingo, 14 de março de 2010

Varanda de casaco vermelho

A noite já caiu sobre a avenida, agora bem mais serena, e sobre nós! Aqui sob as luzes que a iluminam ao som de Beatles...
Aqui embrulhada no meu casaco vermelho que em sintonia com as luzes de travagem dos carros e os semáforos que lhes gritam para parar se acende!
Nesta varanda!
Varanda da minha vista para a cidade...
Como contemplo a vida aqui da minha varanda...como me sinto agradecida!
Como tudo faz mais sentido...
Como aqui sinto tanta certeza de um dia existirmos...
E embora ás vezes olhe para a varanda que se eleva no prédio em frente, rapidamente me apercebo que não tem valor algum, simplesmente porque não é a varanda de onde eu, com o meu casaco vermelho, olho a cidade com um sorriso que mesmo que ainda não possas ver...já te pertence!

quinta-feira, 11 de março de 2010

The Cranberries




Quem poderia dizer que o meu dia iria acabar daquela forma?
Depois de uma tarde de conversa na varanda a tentar absorver as réstias de sol que o dia podia oferecer eis uma proposta vinda do nada..." Vamos para o Campo Pequeno tentar arranjar bilhetes para os Cranberries!"...
Azar o meu que ainda tinha de ir a Portas de Benfica fazer trabalho de campo num ginásio de Boxe a propósito de um livro de Wacquant para uma apresentação de Textos Etnográficos. Bom a verdade é que o tempo parecia cercar-me na tentativa de me estrangular, mas não quis saber, ainda assim acreditei que conseguiria...Mais tarde ao sairmos do ginásio não havia autocarro que nos aparecesse à frente nem rua que deixasse debruçar sobre os parapeitos da janela qualquer coisa de familiar, então andámos e andámos...até arranjar solução! Enfim, às 21h30 estávamos no Campo Pequeno, o concerto prestes a começar e nós sem bilhetes! Foi então que me deparei com um rapaz que se fazia acompanhar de um papel onde se podia ler "Vendo 1 bilhete", mas precisávamos de dois!Procuramos e nada, então, dirigi-mo-nos às bilheteiras para tentar comprar bilhetes para os camarotes visto ser aparentemente impossível de arranjar para a plateia, mas ironia do que quer que seja apenas havia um bilhete restante! Bom já quase sem esperança e exactamente nesse momento uma senhora disse "tenho um bilhete para a plateia", ao lembrar-me do rapaz que vira no inicio pedi-lhe que esperasse ali, e assim foi, procurei o rapaz e convenci-o a vender-me o bilhete por 20euros...
Resultado: 2bilhetes para a plateia por 20euros e um concerto excepcional repleto de clássicos onde a ZOMBIE desempenhou o papel principal adquirindo o titulo de momento da noite...

Isto para relembrar que as melhores coisas da vida são de facto as que surgem do nada....

terça-feira, 9 de março de 2010

ESTOU AQUI

Quero escrever, quero escrever qualquer coisa...e definitivamente quero escrever sobre ti! Mas não consigo passar simplesmente para o papel toda a enormidade do que sinto...não esta noite! Parece tudo tão imperfeito...culpa minha que, na minha ingenuidade ou ilusão, ainda acredito existir perfeição, assim à minha maneira! A razão não o explica e por isso eu acredito, eu tenho fé...ou não seja a fé a crença naquilo que a razão não poderá nunca explicar...
Acredito em ti...
Acredito em nós...um dia...o dia!
Um dia, mas hoje não! Um dia eu saberei traduzir em palavras o porquê de ver tanto por detrás da tua forma espontânea de rir ou da tua maneira de observar de boca ligeiramente aberta...hoje apenas sei que existe!
Porque hoje eu não sei chegar a ti! Presumo, então, que o melhor que posso fazer é nada fazer...e eu sei! Eu sei que tu sabes o que eu sinto...e a menos que queiras ignorar... EU ESTOU AQUI!

quarta-feira, 3 de março de 2010

(...) Let go, Let flow... II

Hoje a chuva revelou ao dia todas as lágrimas que o vento arrancou, que o vento levou...
Curiosamente veio límpida a lavar-me o rosto abrindo caminho para esse sorriso livre de mágoas e disposto a se entregar de novo, mais verdadeiro que nunca...

(...)

Crescemos querendo Ser e confrontando-nos Hoje pensamos nunca ter atingido esse Ser, sentimos falta de Casa, das pessoas, que como as lágrimas, o vento levou...Deixa ir...Deixar ir?!...É difícil demais, mas uma dor completamente necessária para estarmos onde estamos Hoje!
Depois deparamo-nos com pessoas que nos mostram que afinal já somos tudo o que queremos ser...Deixa fluir...

terça-feira, 2 de março de 2010

(...) Let go, Let flow...

Hoje o vento arrancou-me uma lágrima, não sei bem para que a queria nem para onde a levou mas saiu lenta a pesar-me sobre a face com toda a sua leveza espontânea que me gelou, como se o vento não tivesse a certeza de para onde a levar, mas ainda assim levou...
E traiçoeiramente apenas me deixou a película cravada aquando da sua passagem um tanto corrosiva, e ainda assim tive de seguir com o meu dia, lutar por ele e torna-lo meu, para que amanhã o vento não se sinta no direito de me levar mais uma lágrima mas sim de me trazer um sorriso...

(...)

A lágrima que foi só foi porque se deixou levar, porque não lutou para ficar, e então não fazia sentido...
E porque mesmo que não entendas Hoje, se o vento levou é porque não era suposto ficar...
Deixa ir. Deixa fluir...E amanhã terás uma razão para sorrir...

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sinais

Sinais? que sinais são esses?!
Sinais que eu procuro na perfeição que atribui ao teu rosto?! será?
Ou na minha perfeição idealizada que personifiquei com traços definitivamente teus?!
Porque será que cada novo olhar que me tenta penetrar só me dá, e cada vez mais, a certeza de só o teu querer ter, de só o teu fazer sentido?!
Sinais?! O que são afinal?!
Sinais que procuro?!
Sinais da tua incerteza?!
Da tua duvida na minha certeza?! Será?!
Sinais...sinais de mim...
Sinais de ti...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Esqueletos à luz da fogueira...

Lábio molhado...
Recanto encontrado...
Rasta quebrada...
Lua espelhada...
Quem és tu?
Vozes de magia negra...
Um capo roto alucinante...
No meio de uma macumba psicadélica...
Há quanto tempo estás ai?
Corpo de areia...
Margem de sonho...
Visão do Mundo...
Pano de fundo...
Continuas ai?
Odor de fumo...
Fantasia morta...
Fera banida...
Distúrbio devoto...
Pedra virada...
Sentimento mudo...


*Porque ás vezes apetece escrever coisas sem sentido...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Jin-go-lo-ba

Um sacrifício de alma que me faz jogar...
Nesta dança em que toda a gente é tudo...
Encontra a tua forma jogando...
Vais perder e vais ganhar, mas tens de jogar, arriscar...

...

Criei o meu jogo...
Agora estou a aprender a jogar...

Hoje...

No silêncio da noite encontro vazios enormes que agravam os meus medos...
Sombras que me apontam o dedo...
Fantasias descontroladas...
Sonhos reais de pesadelos profundos...
Estou sempre à espera...
O que é que importa?!
Hoje, no lugar do Ser, tão longe do distante. Tão perto de nós...
Vamos pegar nas estrelas e formar a nossa constelação...
Vamos criar o nosso próprio rótulo...
Hoje...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Definições

Estou a caminho...
Não existe partida nem chegada...isso são apenas limites que impomos ao querer definir as coisas, ao querer definir a vida...
Não preciso de definições, só tornam as coisas em conceitos vazios...
Vem comigo, não quero que ouças o meu grito, só quero que o sintas...

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Histórias

O quão reconfortante é rever lugares que a nossa memória preservou na caixinha das “coisas boas”…
Tão estranho ver o que Hoje flutua sobre nós…
Olhando para a miúda que era naquela fotografia…
O que poderia ela imaginar de quem sou Hoje? Terei eu correspondido ás expectativas do que ela sonhou para mim? Que poderia ela dizer acerca de quem me tornei? Guardaria ela segredo sobre o que eu viria a sentir por ti? Apenas alguém no meio de tantos para ela, naquela fotografia…
Não sei, só sei que ela se aproximou e me sussurrou ao ouvido “é ele”. E eu ri-me, ao aperceber-me das voltas que a vida dá…
Histórias sobre ti… histórias? Apenas temos o direito de julgar o presente…
Não quero saber, não me importa o que dizem…ainda te vejo com os meus olhos, esses que tantas vezes com os teus chocam…
Será tudo na minha cabeça? Quero ouvir o que tens a dizer…

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Insónia

Teimo em dormir...
Desgarro-me por uma paz, ou uma qualquer ilusão dela, que só a escuridão da noite acredito de mim poder despregar toda uma luz arrebatadora da abulia que em mim crava. De tão pouco ter para dar, de tão pouco iluminar...

(...)

Torna-se um fardo encontrar uma musica para ouvir, a todas elas lhes faltam notas, notas essas que outrora se abatiam sobre o meu diambulante Ser como uma droga de sensações injectadas, para lá de um Mundo de contradições mal disfarçadas...

Não há emoção que aflore!
Que abstracção de mim!
Até o intenso negrume da noite está baço...

Teimo e não durmo...

domingo, 31 de janeiro de 2010

O que farei com isto?!

As ruas estão vazias de tantas vidas que as preenchem…
E eu não vejo ninguém. Vejo-te a ti. Ultimamente vejo-te a ti. Só a ti, a vaguear no meu papel rasgado e sozinho, onde desenhei a cidade, em linhas esbatidas, de ruas vazias de tanta gente.
Tantas são as vidas que mesmo estando ao nosso lado nos passam ao lado!
Eu?! Eu sou um protótipo do meu sonho e tenho em mim a razão de uma conquista, ainda que hipotética. Porque “ o Mundo é para quem nasce para o conquistar e não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.”
Estou hoje retocando este meu desenho e nada se sobressai mais que tu, por mais cor que dê a cada recanto, por mais contorno que ofereça a cada rosto, por mais esmaecido ou riscado que te tente deixar…nada tem mais relevo que a tua pessoa de traços definidos á luz de uma multidão de ruas de nada, porque nada em ti vêem!
Eu?! Eu “ sou uma sensação sem pessoa correspondente.”
Estou hoje também desenhada nesse papel, mas tu decerto não me vês!
Observas um Mundo exterior a ti…
Ás vezes ris…
Como me preenches!...e me desassossegas!
Tantos são os olhares que mesmo se cruzando se desviam!
Eu?! Eu nada sei de ti! Sorte podermos imaginar tudo do que nada sabemos!
Estou hoje á parte de tudo, ainda assim talvez não tanto como já tivera, ou não da mesma forma…não faz mal! Amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser, ou não seja essa a esperança que o amanhã nos traz, ainda que tão mentirosa quanto essas ruas de gente…
Mas tu?! Tu desse ângulo não me vês bem!
A mim?! A mim este plano em que te observo chega para te amar ( um amar de detalhes ), ou á ideia que tenho de ti!
Mas afinal o que são as coisas senão o que pensamos delas?!

domingo, 17 de janeiro de 2010

Tu ou TU?!

Foste sempre TU e tu sempre foste tu, pelo menos para mim...
Esperei e esperei, e quando pensava já não estar á espera, ainda esperava. Esperava que quisesses ser o meu TU. Mas hoje percebo que sempre fugiste a isso, e quando em intervalos ilusórios parecias não fugir...não...era o TU que eras pra mim que não me permitia ver que esse TU, agora meu, era apenas outra forma de fugires...
Sempre esperei, esperei que aquele abraço permanecesse genuíno, que fosse a realidade de todos os dias e de todas aquelas palavras que me pareciam tão perfeitas...mas, afinal, tão inatingíveis!
Sempre esperei, esperei e voltei a esperar...acreditei que esse TU que tens para mim quisesse de facto ser meu, mas ele sempre foi clandestino...sempre fugiu de si!Como poderia, então, ser meu?!
Nem pra sempre posso esperar, nem pra sempre quero esperar o TU que nunca quis ser meu...Então finjo, represento, desempenho o meu papel e vou construindo uma fachada em que não quero mais esse TU...e não...de facto já nem és tu, não o meu TU!
Quero ser mais, quero ser melhor...


“ Se nunca tentássemos parecer um pouco melhores do que somos, como seriamos capazes de nos tornar de facto melhores?” Cooley

domingo, 3 de janeiro de 2010

Impressão de Realidade

serão as pessoas com quem nos encontramos realmente quem afirmam ser? Seremos nós mesmos quem afirmamos ser? Seremos as pessoas que acreditamos ser?
Julgar o carácter de uma pessoa em determinada altura implica julgar como essa pessoa se comportaria em diferentes condições, pois muitas das formas sob as quais nos descrevemos têm, eticamente, implicações distintas sobre o que aconteceria, ou sobre o que faríamos, em condições diferentes.
Será possível para um indivíduo agir de acordo com o seu livre arbítrio sem depender da influência de factores externos e internos?
A que ponto temos a capacidade e a liberdade de nos reinventarmos?