sexta-feira, 14 de maio de 2010

Autenticidade(?)

A propósito deste tema da autenticidade irei falar do livro “tradicional” por oposição a um novo conceito de livro, o livro electrónico – e-book.
Há uns tempos vi uma notícia, algures num telejornal, onde se falava acerca das fantásticas aplicabilidades desta nova forma de ler, que na minha opinião não tem nada de fantástico e muito menos de autentico.
Podemos incluir este e-book na categoria das novas tecnologias que caracterizam o Mundo de Hoje, e portanto a contemporaneidade.
Começarei por apresentar as características deste integrante das inovações tecnológicas com base na minha pesquisa on-line. Assim, este novo formato constitui, ao que dizem, “ uma biblioteca de bolso, é pequeno como um livro de bolso, permite transportar entre 1000 e 4000 livros, jornais, documentos de trabalho ou suportes áudio, lê vários formatos, oferece uma autonomia que permite ler até 7000pág. mesmo à luz do sol, sendo ainda possível marcar as suas páginas, ampliar o tamanho do texto, escolher utilizá-lo na vertical ou na horizontal e apresentar imagens. O seu sistema de apresentação à base de tinta electrónica oferece um grande conforto de leitura, comparável à de um livro”.
Comparável à de um livro? Será?
Será em torno desta questão que irei tecer o meu comentário, começando por perguntar até que ponto será legitimo comparar o livro electrónico ao “tradicional”?
Com isto, há que ter em conta que o conceito de autenticidade para além de ser, indubitavelmente um conceito inteiramente relativo é também, a meu ver, um conceito subjectivo, pois está em parte, e não querendo generalizar visto ser óbvio que existem traços que definem uma cultura e a tornam única e autêntica, dependente da opinião de cada individuo dentro da sociedade a que pertence.
Posto isto, o livro é indiscutivelmente algo tradicional, com existência prolongada, não só na nossa cultura, mas em muitas outras. Fazendo parte da História e sendo ele próprio história.
História de Homens que algures no tempo decidiram pegar em pedras que colhiam do chão e rabiscar uns hieróglifos nas cavernas e em outros locais propícios a tal. Que passados largos anos evoluíram, e voltaram a evoluir, e assim mais 4 ou 5 vezes (seguindo-me pelo que a história dita). Passaram por vários processos de moldagem até chegarem ao protótipo do ser humano actual. Durante todos estes anos, descobriram-se formas de fazer o dito papel, tendo como base de criação, as árvores. Começaram então a expressar-se através das folhas de papel e canetas, criando livros, livros esses que se começaram a comercializar.
A sua autenticidade reside, acima de tudo nos sentidos que desperta. Poder tocar num livro, folhear página a página e sentir a textura das folhas ao voltá-las, o cheiro característico de um livro guardado durante anos ou da tinta de um acabado de comprar, sentir que temos um poço de informação nas mãos, poder manuseá-lo à nossa inteira vontade, criar um elo de ligação com cada livro como se fizesse parte de nós e do nada que na subtileza das páginas se vai encaixando. Sensações que apenas o livro propriamente dito pode extrapolar, roubadas, mecanizadas com essa nova forma de ler.
O simples facto de ter os livros com suas capas ilustradas para pegar e esfolhear, para contemplar, coleccionar, sublinhar, para ler e reler, dispor em estantes ou espalhar pelo chão…não é isto de uma extrema autenticidade? Como poderei eu sequer imaginar todos os meus livros atabalhoados em letras dentro de um ecrã que nada me pode transmitir?
A nossa sociedade está perante mais uma transformação em comunicação literária, o novo paraíso das gerações vindouras, onde já não há sentimento pelas boas energias que a capa de um livro nos transmite.
O e-book ainda se encontra numa espécie de limbo, mas o que haverá de autentico nesta tentativa desenfreada de automatização traduzida em chips a colocar no cérebro do Mundo? O que haverá de essencial quando o que existe de verdadeiro for desnecessariamente transformado numa tentativa de acompanhar o frenesim dos tempos?
Eu que sou uma pessoa analógica num Mundo digital espero que se possa encontrar um equilíbrio entre extremos, espero que se mantenham os nossos preciosos livros palpáveis.
Mas de alguma forma verificar-se-á coexistência ou competição com o livro tradicional?

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