domingo, 19 de setembro de 2010

Episódio Triste

Desfoco os olhos desta realidade numa tentativa ilusória de que ela adquira a veracidade de outros tempos, mas ela insiste em me pesar a cada passar de um ridículo segundo. Saberemos afinal o que chega a ser real? o que chega a ser verídico? sincero? nosso?
Ou será isso ao final de uma história contada na mais bonita das conjugações, das palavras cobertas de sonhos,a realidade desfocada dos segundos que o tempo guarda e pinta de eternidade? Não vejo senão efemeridade nisso...
As paredes aqui, também elas cansadas da espera das cores que lhes prometemos oferecer, sentem o vazio que lhes cuspo no pesar da noite serrada que não te trás à rua para a qual corro vezes sem conta na esperança medíocre de que tu dobres aquela esquina, aparentemente impossível de malear. Ai se a pudesse desviar do meu caminho para te ver chegar!Para isso seria preciso que quisesses de facto chegar...
Esperei até a noite me confundir com ela, até o abandono e a perda me devorarem as entranhas.Foste e não olhaste para trás.Mas se te é tão fácil deixares-me no caminho passado dessa terra então para quê consumir o tempo construindo meticulosamente esperanças do que já tomou rumo? Que terra foi essa afinal? Foi? Não foi?
Pedi-te ao meu lado mas percebo agora que o entorpe não é a minha falta de disposição para tal mas sim a tua, que tão depressa como te ocupas-te da minha vida, a deixarás...
Estas são as linhas de um mundo contrário a si mesmo, que vou desfocando para melhor ver, onde desvaneces lá bem ao fundo, porque amanhã? amanhã entregarás tudo à insignificância vã de uma crença, porque também não virás...estarei à espera para desfocar de vez o meu mundo numa outra direcção...
As paredes? colori-las-ei de pedaços quebrados da minha solidão que nunca teve senão destinada a ser sozinha...