terça-feira, 29 de maio de 2012

Começou com o sentir o chão frio sob os meus pés. Na verdade estava calor e o vento era uma mentira que a lua sussurrava ao longe e que eu não ouvia. Era um trampolim que me lançava na palpitação de um contacto cruel, era a pedra fria do chão que eu amassava numa luta contra a gravidade.
 Faltam-me palavras.
 Faltam-me silêncios.
 -Já chegaste?
 -Estou a caminho, estou agora mais perto de quem sou...ou talvez não, talvez me vá distanciar primeiro. Talvez precise primeiro de me construir na mentira que os teus olhos querem ver, ou na que eu preciso de oferecer aos meus.
 -Não sei se entendo, mas faz-me sentido...
 -E é ai, é ai que eu estou! É ai que eu sou, algures nesse meio de imagens confusas, algumas opacas, outras nem tanto. É nesse meio caminho que me entendo.
 Porque o entendimento é uma janela aberta para o momento, é um dizer sim sem saber bem porquê e sem ter necessidade de o fazer. É um pensamento quase fora do pensamento, despropositado da consciência.
 A brisa levava consigo as palavras mudas que delicadamente havia pendurado no estendal inexistente da minha abstracção.
A brutalidade de uma sensação.
-Aceitação, posso entender agora.
 Começou com o não ter a noção de sentir o chão frio sob os meus pés. Na verdade a lua estava logo ali , ao passo de um abrir de mão...

 *Para ti que sei que vais passar por aqui! ;)

quinta-feira, 31 de março de 2011

O Grau 64 do Azul

http://www.ograu64doazul.blogspot.com/

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ás Vezes no Silêncio

Ás vezes no silêncio ouço vozes, essas que não cessam. Os gritos e as palavras imundas deste esquema que me enrola nas suas amarras de descontrolo e perdição. De sonho. De nada. De tudo. e de nada. E as paredes desse silêncio ganham vida por entre a inércia de uns braços que me acolhem e me embalam e me deixam cair.
E é tão intocável. Tão doentio. Tão mortal.
Nunca falei de mim e do que sou mas o silêncio são essas vozes que ameaçam revelar-me. Com esta voz. Com esta música. Com este medo.
E é ao libertar-me desta opressão que ajo compulsivamente com o sentido de perder a identidade e me transfigurar. De me tornar impossível. Porque tenho medo da verdade dos dias e dos dias sem verdade.
é uma exaltação livre e reprimida. Proibida. Trágica.
Sou eu a fugir de mim largando ódios e medos, ás vezes no silêncio...

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Errante

São sombras, sombras deste e do outro tempo, aquele que já nem me lembro ou por segurança apaguei de mim. São sombras lá bem ao fundo de raios que me trespassam bem aqui onde estás e não estás. Onde este tempo, doente de viver, me abraça e me confunde com a sua tonalidade cinzenta e amarga de quem se confundiu consigo próprio, de quem se esqueceu do que era para se tornar o que já nem sabe se é. Em queda livre, mergulhado nestas amarras que me acorrentam a mim, que me transformam e me fazem sentir coisas que não quero carregar dentro de quem sou e já não sou. Não sei se sou. Haverá quem nos faça lembrar de nós quando nos esquecemos de quem somos? O meu corpo treme, mas não sei porque teme. No entanto teima em não parar.Já não treme como antes, já nada se encontra no que foi porque já tudo se perdeu. O meu coração contrai-se até a exaustão. Dor. Aperta-se de coisas que lutam para não me largar, talvez porque as palavras não são mais surpresas iguais às que eu tinha sonhado. Apaga-me. Apaga-me que eu não quero ter esta cor. Quero ser errada, quero ser minha e de mim só. Não quero a escravidão do que não quero sentir. Sou errada, quero estar errada. Para quê tentar fazer as coisas bem? Respirar torna-se difícil.Está frio demais para sentir quem sou e eu quero ser errante como o mundo que corre sobre nós.A vida confunde-me e apodera-se de mim mas se de nada valeu até agora então o que mais posso ser? Já nem escrever sei. Apaga-me, quero ser um erro...

domingo, 19 de setembro de 2010

Episódio Triste

Desfoco os olhos desta realidade numa tentativa ilusória de que ela adquira a veracidade de outros tempos, mas ela insiste em me pesar a cada passar de um ridículo segundo. Saberemos afinal o que chega a ser real? o que chega a ser verídico? sincero? nosso?
Ou será isso ao final de uma história contada na mais bonita das conjugações, das palavras cobertas de sonhos,a realidade desfocada dos segundos que o tempo guarda e pinta de eternidade? Não vejo senão efemeridade nisso...
As paredes aqui, também elas cansadas da espera das cores que lhes prometemos oferecer, sentem o vazio que lhes cuspo no pesar da noite serrada que não te trás à rua para a qual corro vezes sem conta na esperança medíocre de que tu dobres aquela esquina, aparentemente impossível de malear. Ai se a pudesse desviar do meu caminho para te ver chegar!Para isso seria preciso que quisesses de facto chegar...
Esperei até a noite me confundir com ela, até o abandono e a perda me devorarem as entranhas.Foste e não olhaste para trás.Mas se te é tão fácil deixares-me no caminho passado dessa terra então para quê consumir o tempo construindo meticulosamente esperanças do que já tomou rumo? Que terra foi essa afinal? Foi? Não foi?
Pedi-te ao meu lado mas percebo agora que o entorpe não é a minha falta de disposição para tal mas sim a tua, que tão depressa como te ocupas-te da minha vida, a deixarás...
Estas são as linhas de um mundo contrário a si mesmo, que vou desfocando para melhor ver, onde desvaneces lá bem ao fundo, porque amanhã? amanhã entregarás tudo à insignificância vã de uma crença, porque também não virás...estarei à espera para desfocar de vez o meu mundo numa outra direcção...
As paredes? colori-las-ei de pedaços quebrados da minha solidão que nunca teve senão destinada a ser sozinha...

domingo, 25 de julho de 2010

Só isto?!

Piso este chão, piso este chão tão diferente do meu...
Piso a gravidade para de mim me aliviar...
Escorro os cabelos ao vento nesta cidade de sons e de luzes, neste Tejo que nas suas margens me eleva, e com o olhar posto no horizonte dessas correntes sigo e afasto-me e desloco-me mas a gravidade que piso afinal só me pesa e me silencia na escuridão que trago que carrego e que deponho porque me sinto "Só isto?" .

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Grades

Ainda agora te quis falar mas não pude, tenho essas grades em meu redor, grades que sei que não te mantêm do lado de fora, apenas me cercam...

"Neste caso o problema é que posso não ver bem. E o que eu quero nesta situação é ver bem..."


-Sou complicada, disse.

"Aproxima-te um pouco mais, não penses nas grades!"

-Ainda não te percebo bem, disseste.

"Sou para ti uma silhueta. Um corpo que se movimenta com esforço. Há pouca luz aqui. Há sempre pouca luz aqui. Não me consegues ver bem, não percebes bem como sou (...)"